Enquanto o salmo 1 começa com 'bem-aventurado o homem', o salmo 2 termina com 'bem-aventurados todos'. Observamos ,portanto, uma transição do indivíduo para o grupo. O salmo 1 trata das lutas do indivíduo justo; o salmo 2, por sua vez, focaliza o destino do povo de Deus em um mundo governado e organizado por nações estrangeiras. As nações que se opõem a Deus e a seu Ungido são a manifestação mais ampla dos pecadores e escarnecedores mencionados no salmo 1.
O salmo 2 é o primeiro de uma série de textos conhecidos como salmos reais, ou seja, salmos cujo tema principal é o rei . Acredita-se que esses salmos estavam associados a cerimônia de coroação, realizada quando o novo rei subia ao trono. Qualquer mudança de governo, por sucessão pacífica ou golpe de Estado, é um acontecimento importante, com potencial para crises e rebeliões. Não foi coincidência os israelitas pedirem a Roboão, filho de Salomão, que aliviasse o jogo pesado deles antes da coroação, 1 Reis 12. 1 a 5.
Em atos, o salmo 2 e interpretado como um texto de teor messiânico. O Ungido em é Jesus Cristo, e Herodes e Pôncio Pilatos representam os reis da terra, Atos 4. 25 a 27 e 13.32.
O salmo 2 levanta a questão dos poderes malignos do mundo, um assunto importante para todos que imaginam ser impossível ter esperança em um mundo governado por interesses próprios. Mas Deus está no controle desse mundo, e aqueles que se refugiam nele serão bem-sucedidos.
O salmo começa com uma pergunta retórica: Porque... os povos imaginam coisas vãs? Uma conspiração ampla está em andamento. Enquanto a mente do justo se dedica a pensar na lei do Senhor, a mente dos ímpios se ocupa com ideias para derrubar seus governantes. Conspirações desse tipo são bastante conhecidas no mundo inteiro, com toda a sua história de intrigas e golpes de Estado. Governos querendo derrubar governos, a 'esquerda' querendo derrubar o líder que a nação escolher e que Deus instituiu, maquinam tudo sem pensar na população do País, tudo por causa do seu querer, do seu ego, de estar sempre por cima em destaque.
O rei era chamado de 'ungido', pois parte da cerimônia de coroação consistia em derramar óleo sobre a sua cabeça, 1 Samuel 10.1. Em Israel era como usar óleo para fins alimentícios, medicinais e cosméticos; ao ser empregado para ungir sacerdotes, profetas ou reis num contexto religioso ou político, porém o óleo indicava que a pessoa estava sendo separada para uma função ou ofício específicos. O indivíduo em questão passava a ser chamado portanto de 'o ungido', designação que pode ser traduzida literalmente por 'o Messias'.
O Ungido não permanece no governo por seu próprio poder. O salmista descreve como 'seu ungido' isto é, do Senhor. o rei terreno governava em nome e sob a supervisão do verdadeiro Rei divino. As ameaças ao rei ungido descendente de Davi eram consideradas oposição ao governo do Senhor. Não obstante, as nações sujeitas a esse governo desejavam libertar-se; daí ouvirmos os conspiradores falar de romper seus laços e lançar fora suas algemas. Muitos conspiraram contra Jesus Cristo e continuam conspirando sobre sua noiva 'a igreja'.
Conspirações políticas e oposição religiosa podem levar alguns cristãos ao desespero. Por isso, precisamos atentar nos próximos versículos desse salmo, nos quais o Senhor dá sua resposta final a todas as conspirações. Os conspiradores podem ser Reis da terra cheios de arrogância, mas 'Aquele' a quem se opõem habita no céus, está sentado tranquilamente em seu trono, enquanto os adversários correm de um lado para o outro. O Senhor ri-se e zomba desses conspiradores insignificantes.
Diante da rebelião o rei celestial se pronuncia em favor de seu representante, essa intervenção provoca terror em seus adversários, sua oposição ao novo rei terreno é retratada claramente como oposição ao Rei celestial que está por trás do que acontece na Terra.
Deus lembra aos conspiradores que ele é o mestre de cerimônias. Foi ele quem escolheu e deu posse ao novo rei sobre o seu santo monte Sião.
Deus está no controle de tudo, nenhuma conspiração pode impedir o cumprimento de sua vontade. Herodes e Pilatos foram testemunhas desse fato quando aquele a quem ama mataram, ressuscitou dentre os mortos para viver eternamente; um dia todos os que se opõem ao Senhor verão sua vitória e perceberão que sua oposição foi inútil.
O rei davídico só fala depois das palavras de afirmação do Rei celestial. Certo do apoio de Deus, anuncia um decreto publicado no céu pelo tribunal divino naquele dia.
O adversário hoje se refere ao dia da coroação, no qual o decreto lido e proclamado. Desse dia em diante o rei se torna Filho de Deus. A princípio Deus conferiu esse título a nação de Israel como um todo, Deut. 1.31; posteriormente, contudo , o prometeu de forma específica aos reis da linhagem de Davi , 2 Sm 7:14.
No antigo Oriente Médio os reis são considerados divindades. Para o povo da Nigéria, por exemplo, os reis eram descendentes dos deuses e atuavam como seus representantes; mas não é a esse conceito que a Bíblia se refere quando chama o rei israelita de filho de Deus; ele continua sendo considerado um ser humano, mas atua como representante do Rei celestial.
No novo Testamento as palavras 'Tu és meu Filho, eu, hoje, te gerei, são criadas por Paulo em seu sermão em Antioquia da Pisídia, Atos 13. 33, e pelo escritor da epístola aos Hebreus 1.5.
A filiação divina de Jesus, como a do rei não diz respeito ao nascimento biológico, são filhos no sentido de que se encontra num relacionamento especial com Deus; enquanto a relação do rei com Deus era de um ser humano como seu Criador, Jesus e o pai compartilham da mesma natureza, Jesus se tornou Filho de Deus de forma voluntária ao se sujeitar ao pai, Filip. 2.6-7.
A descrição do rei que governa sobre as nações com vara de ferro e as despedaça como um vaso de oleiro de oleiro pode referir-se a um ritual realizado como parte da cerimônia de coroação; o novo rei provavelmente recebia um vaso de barro com o nome de governantes, nações e povos inimigos, e o despedaçava para simbolizar sua vitória sobre seus adversários.
Conclusão
Os últimos versículos do salmo são dirigidos aos governantes da terra 'nações, povos, reis e autoridades' que conspiram, são convidados a aceitar a única proposta que lhes resta: Sujeitar-se voluntariamente ao Ungido; não há alternativa, vocês devem escolher esse rumo se desejam ser prudentes e permanecer em segurança servindo ao Senhor com temor , significa sujeitar-se ao rei nomeado Jesus Cristo o Salvador.
Aquele que não aceita o governo que Deus instituiu para a nação, também atrairá a destruição sobre se.
Não levanteis contra os escolhidos do Senhor, cada nação recebe o governante da qual necessita.
O salmo não termina com um tom sombrio, pois o Rei celestial não é um tirano; encerra-se em um tom de bênção, bem-aventurados todos os que nele se refugiam. As palavras benevolentes continua sendo válidas em nosso tempo e hoje é o dia de aceitar essa graça, quem aceitar voluntariamente o governo de Jesus será abençoado, por outro lado, quem rejeitar-se o seu senhorio, será castigado um dia por sua arrogância.
Estamos vivendo no tempo da Graça, mas o dia do julgamento vem sobre aqueles que não reconheceram o senhorio do Filho de Deus e de seus representantes.
(Maiores partes C.B.Africano)
Missionária Rosa Dias